Queda na demanda se aproxima dos 20%, quando o calculo inicial considerava retração de 10%
SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIA
Um calculo inicial dos comercializadores estimava que se a queda no consumo de energia no mercado livre fosse de 10%, em razão da pandemia do coronavírus, o prejuízo ficaria na faixa de R$ 200 milhões por mês. Os impactos se mostraram muito mais severos, e agora, com a redução da demanda em quase 20%, o cálculo do prejuízo chega a R$ 5 bilhões, se for considerado o impacto para todo o ano de 2020. O número já tinha sido apontado na semana passada pelo repórter Mauricio Godoi.
“As empresas, com muita dificuldade no mercado livre, estão suportando esse prejuízo, respeitando os contratos com os consumidores, em uma posição bastante desfavorável”, afirma o presidente executivo da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia, Reginaldo Medeiros.
A dificuldade é resultado de uma situação que nunca foi pensada pelos agentes econômicos, que é todos os consumidores reduzirem o consumo simultaneamente, usando ao mesmo tempo todas as cláusulas contratuais de flexibilidade. “O mercado , quando ganha flexibilidade, ganha nos dois sentidos. Ora os consumidores consomem mais do que o contratado, ora consomem menos. Agora, essa situação de todos ao mesmo tempo exercerem uma flexibilidade menor, ninguém prevê esse risco”, explica o executivo.
A solução para a mesma crise que impacta o ambiente de livre de comercialização segue outro caminho no mercado regulado, que inclui a contratação de um novo socorro via empréstimo bancário às distribuidoras. Para Medeiros, o decreto que regulamentou a criação da chamada Conta Covid – uma nova versão da Conta ACR – vai no sentido correto de equacionar o problema de caixa das distribuidoras.
Continua sendo importante, no entanto, tratar de forma estrutural o mecanismo de contratação de energia no mercado regulado, para evitar crises que já tornaram recorrentes. “O que precisa é continuar a reforma do setor, para resolver esse problema estrutural do mecanismo de contratação das distribuidoras, que hora deixa as empresas subcontratadas, como foi em 2014, ora deixa supercontratadas, com aconteceu agora.”
O efeito da crise é conjuntural e tende a desaparecer com a melhora do cenário, mas uma característica do modelo, que sempre precisa de uma solução emergencial quando o cenário é desfavorável, permanece. A chamada modernização do setor elétrico está há discussão há cinco anos no setor, mas há muita resistência no mercado para ajustar o modelo comercial, afirma Medeiros.
O executivo está otimista em relação à capacidade do setor de sair da crise “com uma perspectiva positiva de respeito aos contratos, para atrair investimentos no momento em que a economia voltar a crescer.” Ele volta a destacar que, para isso, é importante agora que todos possam se concentrar na importância de promover mudanças estruturais. Com perspectiva de migração para o mercado livre bem menor do que em 2014, já que praticamente todos os consumidores elegíveis já migraram, afirma, é preciso então dar prosseguimento à mudança do modelo.
Fonte: Canal Energia
20.05.2020