Em mais uma tradicional Sexta Livre, tivemos como convidado Luiz Maurer, estrategista, consultor em energia e ex-presidente do Conselho de Administração da Abraceel, para discutir as tendências de longo prazo na contratação de energia.
Maurer disse que o ponto de partida da live foi o relatório “Creating a level playing field for battery energy storage systems through policies regulations, and renewable energy auctions” da USAID 2020. Ao tratar de como começou e evoluiu esse esforço, Maurer disse que a encomenda original era desenhar leiloes híbridos que combinassem energia renovável variável (VRE) com armazenamento de energia por baterias, com o objetivo de permitir o contínuo crescimento de renováveis, que já chegou a um ponto de saturação em muitos países ou regiões, que não conseguem administrar a intermitência dessas.
Maurer disse que se deparou com a questão de como permitir o caminho para a contínua expansão de VRE. Respondeu que a encomenda era simples, leilões de VRE com Battery Energy Store System (BESS), mas a realidade se mostrou mais complexa, e cada país foi adaptando e ajustando os leilões as suas necessidades, testando diferentes modelos. Entretanto, disse haver uma preocupação inerente a todos: baterias (e armazenamento) podem prover uma série de produtos – energia, capacidade, e uma gama de serviços ancilares, logo os leilões seriam de apenas um produto subutilizado em ativos. O desafio passou a ser – como aproveitar o stacked-value de tais produtos?
Possíveis abordagens – para maximizar valor e concorrência nos leilões
Ao tratar das possíveis abordagens para maximizar o valor dos ativos e concorrência nos leilões, Maurer abordou quatro:
- Volta ao modelo tradicional
- Meio termo – modelo de Build-Operate-Transfer (BOT) como a Transmissão no Brasil
- Leilão para apenas um produto, seja capacidade ou algum serviço ancilar – proprietário tentaria monetizar stacked value de outras formas (outros mercados, Merchant)
- Leilões combinatórios – múltiplos produtos distintos, simultaneamente:
– Capacidade, energia, serviços ancilares (um ou vários)
– Uma variante – energia modulada ex-ante em diferentes blocos diários/sazonais
– Requer um processo licitatório seguido de otimização
Em seguida, Maurer citou os múltiplos modelos de negócio e PPAs que estão sendo testados no mundo. Disse que novos e distintos modelos estão aparecendo a toda hora – o “futuro” já está acontecendo – a exemplo dos países: Índia (Round-the-Clock), Brasil em Roraima (Capacidade firme e energia associada), Tailândia (contratos quase-firmes), Portugal, Colorado (opção de produtos, leiloes em separados), Havaí (leiloes de VRE com ou sem armazenamento), Abu Dhabi (prêmio de 60% para energia gerada ponta/verão) e Colômbia (deferimento de investimentos em T).
Tendências que transcendem o uso ou participação de Battery Energy Storage System (BESS)
Ao tratar das tendências que transcendem o uso ou participação de BESS, disse que o maior drive da mudança e a transferência de riscos do comprador para o vendedor nos contratos.
Afirmou que essa é uma mudança lógica, pois o vendedor entrega um produto mais aderente aos requerimentos do mercado e o vendedor toma providências que minimizema intermitência – ou seja, entrega um produto com maior grau de firmeza.
Sobre a viabilidade econômica de gerenciar parcialmente a intermitência pelo lado do vendedor, Maurer afirmou que é viável economicamente, mas que devem ser avaliadas:
- Tecnicamente – inércia sintética, inversores inteligentes (IEEE 1547-2018)
- Localização adequada – reduzindo custos de congestão (constrained-off)
- Hedges físicos – plantas híbridas (e.g. solar e eólica) com ou sem armazenamento
- Hedges contratuais – combinação de plantas e contratos (com lastro)
- Exposição de diferenças no mercado spot
Ponderou que se nada for feito, a expansão de renováveis será fortemente comprometida.
Maurer disse que todos esses conceitos se aplicam ao Brasil, dado que “somos abençoados com uma bateria alegadamente infinita” – e que tem alguma sinergia sazonal com algumas fontes VRE, logo, a nossa capacidade de acomodar VRE e enorme, havendo, contudo, a questão de tempo. Disse ainda que os problemas, contudo, já estão se tornando evidentes para o ONS operar:
- Sazonalidade de eólicas
- Intermitência de solar (GD e utility-scale)
- Restrições de transmissão inter e intra sub-mercados
- Ônus imposto sobre hidrelétricas para ser o swing producer:
- Chuva
- Acentua desgaste das máquinas
- Não estão sendo compensadas adequadamente por esses serviços
- Incentivos perversos em investimentos que poderiam aumentar flexibilidade
Maurer ponderou que a energia esta cada vez mais barata, mas confiabilidade cada vez mais cara – o que gera uma questão de eficiência econômica – quem deve pagar por ela?
Implicações para comercialização no mercado livre
Ao tratar das implicações para comercialização Conceito de Leiloes 2.0 para VRE, Maurer citou:
- Realoca riscos do comprador para vendedor (já ocorrendo no Brasil e Colômbia) – pagamento pelo montante gerado versus contratado
- Oferece aos proponentes alguma possibilidade de gerenciar riscos, por Hedge físico ou financeiro ou por modulação em blocos diários ou sazonais;
- Permite que os proponentes combinem fontes em um mesmo bid de forma não discriminatória;
- Governo define requisitos do mercado (em termos de energia, capacidade, tipo(s) deserviços ancilares);
- Governo executa leiloes em separados para cada requisito;
- Ou leiloes combinatórios:
- Proponentes podem ofertar um ou mais produtos
- Seleção com base em preços, requisitos, e atributos por fonte
- Processo de otimização para minimizar custos totais
Implicações para comercialização no mercado livre
Na conclusão da Sexta Livre, Maurer abordou as implicações para a comercialização no mercado livre desses leiloes. Disse que as comercializadoras terão um papel vital em ajudar nos bids híbridos, pois conhecem as duas pontas do mercado, tem capacidade para gerenciar riscos – hedges físicos ou financeiros e podem apresentar propostas mais atrativas nos leiloes.
Por fim, Maurer questiona os seguintes pontos para os comercializadores:
- Os findings anteriores se aplicam apenas para mercado cativo?
- E para contratos corporativos que estão ganhando importância relativa?
- Os clientes corporativos vão querer contratos mais firmes?
- Como as reformas em andamento podem “modernizar” o conceito de flexibilidade, dando os incentivos adequados?
A apresentação realizada está disponível aqui no site, seção “Biblioteca” > “Apresentações”. A live está disponível no canal do Youtube da Abraceel.