Estadão – Blogs – ECOando – 10/09/2019
Em 2018, 69% da geração de eletricidade por biomassa teve como destino o Ambiente de Contratação Livre e 31% para o Ambiente Regulado, segundo dados da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). “Quem constrói uma planta de biomassa não vende 100% no ambiente regulado porque existe uma oscilação de produção de cana”, explica o sócio da KPMG, Paulo Guilherme Coimbra.
A biomassa representa hoje apenas 8,5% do Sistema Interligado Nacional (SIN). No entanto, um estudo de 2018 Abraceel mostra que, em capacidade instalada, a bioeletricidade da cana de açúcar é a 4ª fonte de geração mais importante da matriz brasileira, atrás da fonte hídrica, das termelétricas a gás natural e das eólicas.
Segundo Coimbra, mesmo a capacidade sendo grande, existe um problema de suprimento da cana de açúcar – maior fonte de bioeletricidade no Brasil. “A equação não é fácil pela simbiose que você tem ali entre os dois setores; você não consegue isolar um do outro”, aponta, lembrando também que existe uma grande variação no preço da commodity.
O Diretor de Relações Institucionais da Abraceel, Frederico Rodrigues, concorda. Na visão dele, seria necessário produzir mais cana para que a bioenergia aumentasse. “Se houvesse a maior utilização de álcool na matriz energética, como dos automóveis, talvez isso incentivasse mais a produção”, avalia.
Impacto socioambiental
Mesmo com os impasses, a biomassa carrega um atributo social forte de eliminar um problema ambiental. “Também é outra coisa que dependendo dos interesses econômicos você elimina um passivo ambiental como o lixão em um centro urbano e ainda produz energia muito próxima do centro de consumo”, comenta Coimbra.
Desta forma, de olho nesse potencial, empresas têm adotado novas energias. Vencedora do Prêmio Eco 2012, a distribuidora de energia Elektro adotou em sua sede em Campinas (SP) uma política de só consumir eletricidade de fontes limpas.
A empresa emprega energia produzida em usinas eólicas e de biomassa e em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Além disso, a companhia controla a emissão de gás carbônico de seus veículos e está desenvolvendo um óleo isolante a partir do milho para uso em transformadores, religadores e chaves de distribuição.
Seguindo uma linha semelhante, a PepsiCo venceu o Prêmio Eco em 2013 com um projeto energético à partir de biomassa. A aveia que a empresa usa para fabricar os produtos Quaker, em Porto Alegre-RS, serve também para produzir a energia utilizada na própria unidade. A casca do cereal gera vapor para a caldeira, que antes era movida a gás natural.
O poder calorífico da casca de aveia é de 4.395 kcal/kg, superior ao de outros insumos em 20% a 30%, segundo a empresa. O projeto foi desenvolvido em parceria com a APS Soluções em Energia, que cuida da parte técnica do equipamento, enquanto a primeira adquire o vapor gerado.
Com a nova fonte, a unidade deixou de comprar 43 mil m³ por mês de gás natural e de emitir 1.042 toneladas de gases de efeito estufa (cálculo feito com base no GHG Protocol). Também reduziu em 38% o consumo de energia por Kg de aveia produzida na unidade. Houve redução de 1.440 toneladas de resíduos por ano, o que representa 20% do volume total da cascas do cereal – os outros 80% ainda são vendidos para ração animal.
Fonte: Blog Ecoando Estadão