Estado possui 33 GW de energia limpa outorgada – mais que Portugal
Sou daqueles que acham até o céu de Minas Gerais mais bonito que os demais. Bisneto, neto, filho e marido de mineira, sou um apaixonado por essa terra rica em cultura, história e recursos naturais. Profissionalmente atuo no setor elétrico há 23 anos e, nesse setor, Minas Gerais é destaque por vários motivos. Vetor da transição energética nacional, o estado se destaca em energias renováveis, tecnologia e empoderamento do consumidor. Vamos ver aqui o porquê.
A transição energética é caracterizada mundialmente por três “D”s: descarbonização, digitalização e descentralização. Em linhas gerais, o mundo busca um setor energético em que as fontes renováveis prevaleçam e que o consumidor possa controlar seu consumo na palma da mão, usando um app, por exemplo, para gerar ou comprar sua energia de forma descentralizada. É no caminho dessa mudança que o mundo viaja, estando diversos países e até estados brasileiros em diferentes estágios dessa transição.
Por aqui, Minas desponta. Em geração renovável, além de ser um dos líderes em geração hidrelétrica, a “mãe” de todas as renováveis, o estado possui disparado o maior potencial de desenvolvimento, com um volume de energia limpa já outorgada totalizando mais de 33 GW, quase o dobro do segundo lugar e o equivalente a uma vez e meia o parque de geração de energia até hoje instalado em Portugal, por exemplo. Essa expansão, que está sendo feita principalmente com geração solar, mas também com pequenas centrais hidrelétricas e biomassa, demanda investimentos da ordem de R$ 100 bilhões no estado.
Quando falamos no consumidor, Minas também está na vanguarda da transição energética nacional. Por exemplo, o estado é líder em geração distribuída solar fotovoltaica, com mais de 200 mil sistemas de geração espalhados pela região e atendendo a aproximadamente 300 mil unidades consumidoras. Além de gerar energia de forma descentralizada, mais do que qualquer outro estado do país, Minas também compra energia de forma mais descentralizada do que os demais estados do Brasil.
No mundo, o ambiente comercial da transição energética é o mercado livre de energia, no qual consumidores podem comprar eletricidade e gás de qualquer comercializador de energia, gerando com isso uma grande concorrência e, consequentemente, preços menores. No Brasil, a Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel) reúne 103 empresas aptas a disputar as contas dos consumidores livres. Mas apesar de o mercado livre ser o ambiente comercial de todos os consumidores em toda a Europa, incluindo até o residencial, por aqui apenas grandes indústrias e comércios têm essa liberdade.
Enquanto no Brasil cerca de 38% da energia elétrica consumida é transacionada no mercado livre, em Minas esse modelo comercial moderno, competitivo e orientado para o consumidor já prevalece e responde por 51% do consumo estadual. São 2.651 indústrias e comércio de grande porte no estado que já compram energia descentralizadamente, com grande desconto em relação à tarifa regulada, e recebem normalmente essa energia das distribuidoras regionais.
Nesse contexto, é interessante perceber que a partir de 1º de janeiro o Ministério de Minas e Energia está sendo comandado por um mineiro da nossa Belo Horizonte, Alexandre Silveira. E como prova de que o mérito pela vanguarda de Minas no setor elétrico é mesmo dos mineiros, um dos primeiros atos do ministro foi a acertada criação da secretaria de Planejamento e Transição Energética no Ministério. É, mais uma vez, os mineiros protagonizando o avanço do setor elétrico nacional.
Rodrigo Ferreira é presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia
Artigo publicado originalmente em O Tempo.