As mensagens principais da Sexta Livre se centraram na convicção de que a extensão e heterogeneidade demográfica do Brasil nos levará a um plateau longo da Covid-19 em relação ao resto do mundo, com queda no consumo de energia de até 6,7%; de que, apesar do cenário desafiador, haverá muitas oportunidades de crescimento para a comercialização e se darão principalmente via fusões e aquisições, que tendem a se acelerar e proporcionar melhores retornos em ciclos recessivos, e que a comercialização ganhará complexidade, exigindo novas competências.
Nesse contexto, desafios bastante conhecidos do setor elétrico ganharão nova dimensão e incertezas devem criar um ambiente de ameaças e oportunidades. Alguns desses desafios são o aumento de fontes renováveis e intermitentes, GD e digitalização da rede, liberalização do mercado e avanços tecnológicos em automação, redução de custos de armazenagem e processamento inteligente de informações.
Jorge enfatizou que estamos caminhando para uma nova década desafiadora e antecipar cenários, mapear riscos e planejar estratégias será fundamental. No segmento de comercialização os principais impactos e desdobramentos da atual crise no médio prazo serão que as margens pressionadas no segmento demandarão escala para permitir gestão de risco e obtenção de retornos (consolidação do setor) e novos entrantes, aumento de custos de aquisição de cliente, risco de crédito e opção de “cross selling”.
Disse também que a diferença de preços entre o ambiente livre e regulado deverá aumentar nos próximos anos, criando incentivos adicionais no livre. Estima diferença de 15 a 20% com preços médios praticados no ACL, que deverá ser ampliada após queda do PLD e do consumo na crise. Ademais, o nível dos reservatórios deve manter o PLD baixo nos próximos anos e criar boa janela de oportunidade para migração.
O mercado livre após a crise deverá voltar a crescer mais rápido que o ACR. Apesar do grande crescimento da comercialização nos últimos anos, ainda há um grande potencial a ser explorado para os atores preparados. No médio prazo, o segmento de comercialização será bastante diferente do que conhecemos hoje: há necessidade de adaptação. Algumas incertezas se apresentam, como o grau de liberalização do mercado, separação de lastro e energia, PLD horário e lei de proteção de dados e confidencialidade da informação. Isso acarretará crescimento dos volumes de energia negociados e derivativos, redução dos “tickets” médios (entrada do varejo) e pulverização dos canais de relacionamento, possível aumento do preço médio no ACL, maiores possibilidades de arbitragem, diversificação de opções de negócio e aumento do risco do negócio (em todas dimensões, operacional, crédito, mercado). A mensagem principal é que o futuro do setor de comercialização exigirá escala e capacidade de gestão de complexidades – o mercado deverá se consolidar.
Em complemento, Jorge disse que a competição na comercialização não virá apenas de empresas do setor elétrico, mas também do setor de óleo e gás, industrial (carros elétricos), financeiro (bancos, propiciando a sofisticação do mercado e oferta de novos produtos) e Telecom (GD). O mercado se tornará mais complexo com novos desafios de gestão – marca, produto e canal ganharão maior relevância.
Para vencer nesse novo contexto, a Comercializadora 4.0 deverá buscar novos produtos, serviços, parcerias e modelos de negócio. Se por um lado a oferta será consolidada, por outro lado a demanda será cada vez mais pulverizada. No longo prazo o mercado de comercialização será direcionado pelo varejo.