Diário do Comércio – MG – 12/06/2019
São Paulo – A elétrica EDP Brasil entregou à empresa de shopping centers Multiplan uma usina solar em Minas Gerais que demandou cerca de R$ 30 milhões em investimentos e terá capacidade de 8,3 megawatts, o suficiente para atender 100% da demanda de um centro comercial da cliente no Rio de Janeiro.
O negócio faz parte de uma aposta da EDP, por meio de sua divisão EDP Smart, na implementação de projetos solares para fornecimento de energia renovável a clientes comerciais e residenciais, disse o presidente da companhia, Miguel Setas, que revelou que a empresa tem avaliado também aquisições para expandir a presença nesse nicho.
Desde 2017, a EDP já negociou a entrega de 15 projetos de energia solar como o da Multiplan, inaugurado nesta semana, o que representa uma capacidade instalada de cerca de 25 megawatts. A empresa também já anunciou uma intenção de investir cerca de R$ 100 milhões ao ano nesses projetos solares.
“Nós temos uma visão de crescimento orgânico e também via aquisição”, disse Setas, acrescentando que há conversas em andamento nesse sentido. “Tem (oportunidades de comprar) projetos, ou mesmo veículos societários que têm vários projetos.”
Os investimentos da EDP nos projetos solares miram tanto negócios de microgeração distribuída, que envolvem a instalação de placas solares ou pequenas usinas para atender à demanda de um ou mais clientes, quanto o modelo de autoprodução, que permite empreendimentos maiores, como é o caso do projeto para o a Multiplan.
Em ambos os casos, a elétrica fica responsável pelos investimentos, enquanto os clientes recebem energia renovável a preços abaixo do que pagam no mercado.
O projeto entregue à Multiplan é um sistema de autoprodução que envolve 25,4 mil módulos fotovoltaicos, espalhados por uma área de 240 mil metros quadrados, equivalente a 24 campos de futebol.
“Esse é um projeto que se encaixa dentro do conceito de sustentabilidade da Multiplan e que ainda traz uma economia considerável para o empreendimento e seus lojistas. É um modelo que inclusive pode ser replicado”, disse o vice-presidente institucional da Multiplan, Vander Giordano.
Ele destacou que o modelo de contrato fechado junto à EDP viabilizará uma redução de custos com energia de cerca de 40%, equivalente a cerca de R$ 5,5 milhões por ano. O shopping VillageMall, que utilizará a geração da usina solar, fica na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e foi inaugurado em 2012.
Em sistemas de autoprodução, empresas podem produzir sua própria energia em qualquer lugar do país, enquanto as aplicações de microgeração exigem que as instalações de geração fiquem na região da distribuidora que atende o consumidor.
Antes, no final de 2017, a Multiplan já havia contratado a EDP para instalar uma cobertura de placas solares no telhado de seu ParkShopping Canoas, no Rio Grande do Sul, em um sistema com capacidade menor, de 1,33 MW.
Demanda em alta – A EDP Brasil tem sentido uma forte demanda de consumidores por projetos de geração distribuída ou autoprodução, com o mercado aquecido tanto pelo interesse de clientes quanto pelo forte apetite de investidores por negócios nesse nicho.
De acordo com Setas, há de certa forma uma “corrida” por investimentos, dada a recente sinalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de que pode haver mudanças nas regras para geração distribuída a partir de 2020, o que poderia reduzir os retornos desses sistemas no futuro.
“Hoje as regras são muito favoráveis, e há um consenso no mercado de que não vai ser para sempre assim”, apontou o executivo, destacando a movimentação no segmento mesmo em momento de fraqueza da economia brasileira.
Ele afirmou também esperar um movimento de consolidação no setor, com grandes elétricas ou empresas de porte adquirindo pequenos instaladores que investiram na chamada “GD” nos últimos anos.
“Isso já está acontecendo. Empresas de escala mais reduzida buscam saída, e é uma oportunidade para as grandes avançarem mais rapidamente”, afirmou.
Ele disse também que a aposta da EDP nos projetos solares mira uma visão de que esse segmento deverá crescer exponencialmente no Brasil nos próximos anos.
Mas a elétrica, controlada pela portuguesa EDP, seguirá concentrada nas instalações solares para atender consumidores, enquanto eventuais investimentos em usinas solares para geração centralizada, para atendimento ao sistema, são avaliados pela EDP Renováveis, empresa do grupo também presente no Brasil.
A capacidade instalada em projetos de geração distribuída no Brasil ultrapassou a marca de 1 gigawatt, sendo que cerca de 87% dos sistemas envolvem energia solar, disse a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ontem. (Reuters)
Abraceel defende “cidadão-empresário”
A abertura da Audiência Pública (AP) nº 001/2019 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que visa estabelecer condições gerais para o acesso da micro e minigeração distribuídas aos sistemas de distribuição de energia elétrica e ao sistema de compensação de energia elétrica, foi objeto de análise de diferentes alternativas para o atual sistema de compensação, segundo o qual os excedentes de produção de um consumidor podem ser usados para compensar o consumo próprio no período de apuração ou em até 60 meses à frente.
Hoje, esse sistema é um importante mecanismo para promover a micro e minigeração, entretanto, não é suficiente para desenvolver todo o potencial de expansão desse tipo de geração. Além do mais, o sistema foi concebido apenas para o consumidor cativo, que é naturalmente passivo.
A Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), em conjunto com outras entidades setoriais, traz para a discussão a possibilidade de o consumidor comercializar seu excedente de Geração Distribuída (GD) no Mercado Livre, como é realidade em outros países.
Se incluído no sistema como “prossumidor”, o consumidor terá a liberdade de escolher qual a melhor maneira de recuperar seus investimentos em Geração Distribuída, o que também o incentivará a produzir mais do que consome, gerando excedentes que beneficiam todo o sistema, sem criação de subsídios.
A Abraceel sustenta que seja facultada a possibilidade de comercialização de excedentes de geração micro e minigeração distribuída no Mercado Livre já neste processo de revisão da Resolução Normativa 482/2012, o que, como visto, insere-se dentro da esfera de competências já atribuídas à Aneel pela legislação existente.
Para o presidente executivo da associação, Reginaldo Medeiros, a micro e minigeração distribuída são uma tendência mundial para o setor elétrico e a regulação adequada de um mercado para essa energia contribui para preparar o Brasil para essa nova realidade.
“A comercialização de excedentes regulamenta o papel mais ativo do consumidor (cidadão-empresário) e vai ao encontro da simplificação das regras. Sua regulamentação é essencial para assegurar que os benefícios sejam alocados no setor elétrico, em benefício de toda a sociedade”. (Com informações da Abraceel)
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