Consumo do combustível cresce a cada ano no estado, mas esbarra na baixa oferta; Congresso Nacional discute proposta que visa ampliar rede de gasodutos
Nos últimos quatro anos, o consumo de gás natural no Mato Grosso do Sul quase triplicou, passando de 6,2 milhões para 18,5 milhões de metros cúbicos. O número de consumidores seguiu a mesma tendência e cresceu 142% no período, segundo dados do governo estadual. As informações são do Brasil 61.
Apesar do crescimento no uso do combustível, o potencial para expansão do mercado local ainda é pouco explorado. Somente 11 dos 79 municípios sul-mato-grossenses são abastecidos. A única fonte é o gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que planeja aumentar em mais de 2000% o fornecimento de gás em Mato Grosso do Sul. Para isso, a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) vai licitar a revenda do produto, abrindo mercado para outras distribuidoras.
Esse processo hoje é considerado burocrático e afasta possíveis investidores. Como forma de favorecer a abertura de mercado, o Congresso Nacional discute a chamada Nova Lei do Gás, marco regulatório que incentiva o prolongamento da malha de dutos para baratear o preço do combustível.
“O mercado atual está fechado e cartelizado, com praticamente 100% sobre o controle da Petrobras e de outras estatais. Não há investimentos para ampliar a malha de gasoduto no Brasil. Com a nova lei, daremos segurança jurídica para que a iniciativa privada possa participar ativamente, construir gasodutos e levá-los a várias partes do país, gerando novos investimentos”, defende o deputado federal Domingos Sávio (PSDB-MG), um dos autores do PL 6407/2013.
No estado, a maior parte do gás natural que chegará pelo Gasbol deve ser destinado a uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas que planeja abrir as portas em 2022. A indústria deve consumir praticamente todo o estoque que passará a ser distribuído a partir da expansão da rede – a produção dos insumos usa o combustível como matéria-prima. Hoje, o Brasil importa 80% dos fertilizantes usados na agropecuária. Com maior produção em território nacional, a tendência é que o preço seja menor e beneficie produtores de Mato Grosso do Sul.
Na visão de Domingos Sávio, o estado, um dos principais produtores de grãos do país, o projeto de lei pode alavancar investimentos, inclusive no campo. “A nova lei vai facilitar a ampliação e instalação de novas indústrias em vários setores em que o gás natural entrará como uma energia mais barata e essencial para o desenvolvimento industrial do país”, espera o parlamentar.
O atual relator da matéria na Câmara, deputado Laercio Oliveira (PP-SE), considera que o texto está pronto para ser votado e vai deixar para trás anos de atraso no setor.
“Hoje, o PL encontra maior apoio do governo federal e do Fórum do Gás, que representa mais de 60 associados. O projeto está maduro, fruto de muitas discussões na Comissão de Minas e Energia (CME). Aceitamos as opiniões de quem pensa contrário, mas podemos avançar nas discussões. O que temos como certeza é que tudo que foi construído até aqui tem o consenso da maioria que trabalha com o mercado de gás natural”, garante.
O diretor de eletricidade e gás da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) e coordenador-adjunto do Fórum do Gás, Bernardo Sicsú, ressalta a importância do gás natural para reaquecer a economia e, consequentemente, beneficiar o consumidor final. “O gás natural é um insumo fundamental para diversos setores da nossa economia, vários deles demandados nesse momento de pandemia, como alimentos, medicamentos, setores de vidro, cerâmica, incluindo geração de energia elétrica”, exemplifica.
Produção nacional
Segundo o último boletim da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que regula o setor no país, a produção de gás natural em maio foi inferior a abril, com retração de 7,8%. Se comparado ao mesmo mês de 2019, a redução chegou a 3%.
O aproveitamento do gás natural em todo o território brasileiro, de acordo com os dados, foi de 97,6%. O que chama a atenção é que os campos operados pela Petrobras, em consórcio ou não, produziram 94,9% do petróleo e do gás natural. Rio de Janeiro aparece como principal produtor, seguido de São Paulo e Espírito Santo.
Diante desses números, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, salienta que a produção está concentrada em poucos estados, o que desfavorece o setor produtivo instalado longe dos grandes centros.
“Um desafio que a gente precisa superar é a questão da demanda e da oferta. O Brasil tem uma oferta pequena, somos grandes importadores. Basicamente 50% do gás que a gente consome no país é importado, precisamos reverter isso. A gente só consegue baixar o preço do gás no Brasil, que é caro em relação aos demais países, se aumentar a oferta, a infraestrutura e conquistar novos mercados”, analisa.
Se aprovada na Câmara, a Nova Lei do Gás poderá reduzir a burocracia para construção de gasodutos, tubulações utilizadas para transportar gás natural. Segundo a última redação votada na Casa, em 2019, o processo de concessão de gasodutos atualmente é “muito burocrático”, o que impediu a ampliação dessa infraestrutura desde 2009, quando o sistema de concessão de gasodutos foi regulamentado por lei.
A norma propõe, ainda, que as companhias precisem apenas de autorização da ANP, em vez de passar por licitação pública, como é exigido hoje. Essa flexibilização, no entendimento de Bernardo Sicsú, pode promover a expansão da malha de gasodutos e, consequentemente, reduzir os custos de transporte do gás natural. “Essa simplificação e desburocratização são fundamentais para acelerar o processo de transformação no setor. Os benefícios vão refletir de forma mais rápida na economia”, sustenta.
A expectativa do atual relator Laercio Oliveira (PP-SE) é que a Nova Lei do Gás seja votada ainda em julho. O texto, em sua tramitação normal, passaria pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, mas há articulação entre parlamentares para que possa ser analisado diretamente em Plenário.
Fonte: Agora MS
27.07.2020