A Abraceel realizou no dia 10 de agosto a primeira de duas sessões do workshop idealizado para discutir as oportunidades do mercado de carbono para as comercializadoras de energia. Mais de 300 pessoas participaram ao longo de duas horas de discussões.
Mercado voluntário de carbono
Abrindo a sessão de palestras, Henrique Ceotto, sócio da McKinsey, explicou o histórico de evolução do mercado de carbono, apontando os fatores que fizeram com que o mundo corporativo se engajasse com mais intensidade nos esforços da redução de emissões. “O custo de não fazer nada ficou muito mais alto do que fazer alguma coisa. Bancos e seguradoras começaram a colocar esses riscos em seus modelos”, disse.
Ceotto explicou os diferentes mercados, mecanismos e tipos de carbono, detalhando as diferenças e o potencial de transações. Para ele, toneladas de carbono evitadas ou removidas da atmosfera vão virar uma moeda e em 10 ou 15 anos os mercados serão unificados, onde o carbono será uma moeda de troca global. “O Brasil é o único país continental que pode ser carbono negativo”, disse, o que significa que, além de alcançar a neutralidade de emissões, o país pode retirar da atmosfera mais carbono do que emite.
Paulo Zanardi, sócio diretor da GSS Carbono e Bioinovação, explicou o risco crescente de crises ambientais criarem crises econômicas, contextualizando que, em 2022, catástrofes ambientais geraram US$ 343 bilhões de prejuízos no mundo. Para ele, empresas que não fizerem gestão climática corretamente estarão acumulando riscos e que é importante analisar principalmente como a cadeia produtiva das matérias-primas é afetada.
Ele ponderou que empresas que estão comprando créditos de carbono estão compensando emissões, mas sem deixar de reduzir emissões, ao contrário do que se supunha. “Havia uma percepção que, ao investir em crédito, essas empresas estariam postergando suas reduções de emissões, mas isso não ocorre”, disse. Zanardi também apontou oportunidade para as comercializadoras, que podem vender energia limpa associada a outras soluções, como iRecs, análises de risco no mercado de mudança climática e inventário de emissões, entre outras.
Fernando Lopes, diretor do Instituto Totum, ressaltou que as comercializadoras têm oportunidade de atender clientes que querem ter controle da sua “pegada de carbono”, conhecendo precisamente o nível de emissão envolvido na própria cadeia produtiva. Se a comercializadora oferecer, além de energia, certificado de origem dessa energia, a empresa consumidora poderá fazer um “hedge de carbono” e ter certeza que o nível de emissões derivado da energia necessária para a produção será zero.
“Isso é um diferencial que as comercializadoras já estão ofertando aos seus clientes. Embora existam clientes que não se importam com a garantia de origem, querem energia o mais barata possível, mas há alguns que se importam”, disse. “Então, o iRec é um instrumento usado para se ter controle sobre parte importante da pegada de carbono de um cliente, que é a energia elétrica”, concluiu. O custo dos iRecs significa em torno de 1% a 2% do valor da energia, explicou o executivo, que ainda listou diferentes modelos de negócios possíveis envolvendo energia e certificados de origem.
José Amato, da Auren, explicou a experiência da empresa em projetos associados ao mercado de carbono – de hedge a restauração de biomas e energias – com expressiva carteira de projetos já desenvolvidos e ainda em desenvolvimento. Ele alertou que é importante nivelar esse mercado por cima. ”Há muito risco reputacional, comercializar crédito só por preço gera risco muito forte para quem vende e quem compra, há que se fazer diligência nos projetos e conhecer o que se está comercializando”, disse.
Thiago Natacci, da Comerc, explicou que a empresa oferece a todos os clientes um inventário de emissão de carbono gratuitamente, além de, posteriormente, trabalhar com os consumidores uma “jornada de descarbonização”, que conta com diversos produtos. “Onde não conseguimos reduzir a emissão de carbono, fazemos compensação dessas emissões no tempo”, explicou.
Egressos da comercialização de energia, José Guilherme e Thiago Natacci ressaltaram as diferenças do mercado de energia elétrica e de carbono, como o fato desse último “não ser um commoditizado” e com liquidez muito diferente, onde cada projeto tem seu risco e os benefícios importam.