Gazeta Mercantil
Vários fatores fazem com que o setor elétrico esteja merecendo atenção. Nossa matriz de geração de energia elétrica é baseada em hidrogeração. A seguir vem a geração térmica a gás. A participação das duas fontes ultrapassa 87% da capacidade instalada.
A energia nuclear é bem-vinda, desde que competitiva e sem subsídios. Vários fatores fazem com que o setor elétrico esteja merecendo atenção. Nossa matriz de geração de energia elétrica é baseada em hidrogeração. A seguir vem a geração térmica a gás. A participação das duas fontes ultrapassa 87% da capacidade instalada.
No que se refere às hidrelétricas, a construção de novas usinas vem, crescentemente, enfrentando obstáculos ambientais. Não existe no País previsibilidade de prazos e de custos para os licenciamentos e compensações.
Quanto ao gás, a eleição de Evo Morales trouxe insegurança. A percepção é: se não tivermos problemas de abastecimento, teremos elevação de preços. Aliado a isto, surgiu o problema da falta de gás para as termelétricas. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cumprindo suas funções, levantou a questão. Só que a simples retirada da ordem de mérito destas térmicas, reduzindo a oferta em 4.000 MW, ocasionará explosão de preços no mercado spot. Se a Aneel agir assim, penalizará quem não gerou o problema: o mercado. Independentemente disso a conclusão é: não contemos com o gás para aumentar a oferta de energia elétrica.
Voltando às hidrelétricas, superada a questão ambiental, novo desafio se impõe: como os grandes aproveitamentos hídricos estão ficando mais distantes dos centros de consumo, teremos que investir mais e mais em transmissão. Em nosso ponto de vista, e de diversos outros profissionais, o custo da transmissão deve ser incorporado ao custo da energia do empreendimento. Do contrário, estaremos emitindo sinais econômicos equivocados. Diante disso teremos necessariamente que avaliar a geração próxima aos centros de consumo. E aí surge a discussão inevitável: o uso da energia nuclear.
A viabilidade de um empreendimento depende de aspectos técnicos e econômicos. O Brasil possui capacidade técnica. Economicamente, os preços dos últimos leilões de térmicas a gás e a óleo e o custo de transmissão previsto, por exemplo, para as usinas do rio Madeira apontam para a viabilização das usinas nucleares. Com os requisitos acima cumpridos, acreditamos na viabilidade destas usinas. A energia nuclear é bem-vinda, desde que seja competitiva e sem subsídios. Do contrário, estaremos, novamente, emitindo sinais econômicos equivocados.
O efeito estufa é o maior problema ambiental enfrentado hoje. À parte o preconceito, a geração nuclear é uma das fontes que menos contribuem para este fenômeno. Uma usina nuclear capaz de gerar 1.000 MW médios e abastecer uma cidade com cerca de 5 milhões de habitantes produzirá 1 t/ano de resíduo altamente radiativo, sem nenhuma emissão de gases. Para gerar a energia equivalente, uma usina a gás emitiria 2,4 milhões t/ano de CO2 e outros milhares de toneladas de gases nocivos, como o NO2. Já uma usina a carvão produziria 220 mil t/ano de cinzas, e emissões de 5 milhões toneladas/ano de CO2, além de milhares de toneladas de gases nocivos, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
A grande questão, quanto às usinas nucleares, é a segurança, devido ao problema da radiatividade. Considerando-se apenas países responsáveis, houve só um acidente grave: Three-Mile Island (EUA), perdeu-se a usina, mas sequer uma pessoa foi contaminada. Pode-se perguntar: e Chernobyl? Chernobyl foi um crime. Coisa típica de regimes autoritários que não discutem as questões, simplesmente as impõe. Uma usina como aquela jamais seria construída, como não o foi, no Ocidente.
A energia nuclear responde por apenas 2,09% da capacidade instalada do Brasil e pode ser incrementada. A grande questão são os resíduos radiativos, e esta tecnologia já está dominada. A França, como exemplo, gera 78% de sua energia elétrica a partir de fonte nuclear. Por que não seremos capazes? Não sejamos subdesenvolvidos intelectualmente. O brasileiro que visitar as instalações e conhecer os quadros técnicos da CNEN certamente se orgulhará do trabalho do órgão.
Quanto à sustentabilidade, contando com a tecnologia e capacidade de processamento atuais, possuímos reservas de urânio suficientes para abastecer Angra I, II, III e mais outras dez usinas de 1000 MW médios até o ano de 2.110, de acordo ainda com a CNEN.
O momento é grave. Para que a economia possa crescer precisamos investir em geração de energia. Para isso é necessária uma discussão séria, desapaixonada e despolitizada da questão energética, envolvendo meio ambiente, segurança e sustentabilidade. Se não conseguirmos, o País irá parar por falta de energia elétrica.
Walter Fróes – Diretor da CMU Comercializadora de Energia